QUEM NÃO SABE O QUE É UM ANJO

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Tempos atrás, conheci um alguém que tinha uma coisa muito especial. Até hoje não sei explicar o quê. Acho que ele era o que chamam por aí de anjo. Não posso confirmar porque não entendo nada dessas coisas de divindades, santos e afins, sempre achei um papo muito chato. Aliás, de certa forma, é algo que ajuda na teoria de que se tratava mesmo de um anjo. De longe, esse alguém também parecia um tanto entediante. Mas, de perto, era indescritível.

Posso dizer que a companhia do anjo foi a coisa mais sensacional que já experimentei.  Algo completo, viciante. Parece que ele veio até mim para me transformar em um humano melhor. Simples assim. Coloriu os meus dias, me ensinou segredos, mostrou beleza no que havia de mais banal e tirou risadas sei lá da onde. Encheu o presente de paciência, o futuro de esperança. Eu adorava o anjo e ele me adorava, a gente se divertia. Era perfeito.

É claro que, às vezes, o anjo também disse e fez coisas que, como humana, me deixou irritada. Isso porque, creio que o comportamento dos anjos é na verdade um reflexo de nós mesmos. Eles são nossa consciência ao vivo. Ou seja, se você for uma pessoa chata, superficial, egoísta - ou simplesmente distraída - acaba acreditando que o anjo é o problema, e não você. Como foi o meu caso.

Acredite, é muito fácil botar a culpa em um anjo. Isso porque eles são puros, não se defendem. Eles não sabem machucar. Eles apenas aceitam: as acusações de defeitos, os motivos, a culpa. Tudo em silêncio, sem brigas, sem argumentações.

Assim, por conta do meu orgulho humano babaca, por uma necessidade infantil de auto-afirmação, acreditei que era melhor ter aquele anjo bem longe de mim. Só que se livrar de um anjo não é das tarefas mais fáceis. Isso porque, como já disse, os anjos não se defendem. Consegue imaginar a brutalidade que é violar um ser assim? É o tipo de coisa que, quem vê, se assusta, não consegue entender. E quem pratica, se arrepende para o resto da vida.

No início, confesso que apreciei a glória da vitória. Atingido o objetivo de mandá-lo para longe, me senti a última bolacha do pacote, achei que a partir de então teria super poderes para fazer qualquer coisa, blablablá. Não demorou muito, vieram as conseqüências. Bem sérias.

Para começo de conversa, o troféu do duelo foi uma ferida aberta, quase um buraco, que não cicatriza nunca. Até hoje, não sei dizer se tem cura. Dá para usar pílulas, distrações e outros recursos como tratamento paliativo. Mas o problema de verdade fica. Os anos se passam, a dor fica lá. Ela não vai embora, nem fica mais fácil de lidar. Só é a questão de se aprender a conviver com ela.

O discernimento sobre as coisas se vai bem fácil, já que qualquer nova solução, caminho ou opção não traz alívio. É sempre a mesma coisa. O “tanto faz” se torna uma constante do dia-a-dia.O mais chato é que as lembranças que restaram sobre as coisas boas de verdade sempre revertem à época em que eu desfrutava a companhia do anjo. 

Por isso, por favor, se não sabe o que é um anjo, fique esperto. É aproveitar ou lamentar. Os anjos aparecem uma só vez e mudam a vida para sempre. Para a melhor ou como for. Mas fica o meu aviso, o "como for" dói muito.

DOR PRA ESCREVER

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Só costumo escrever por conta própria quando estou em sofrimento, agonia, tristeza. Feito agora. A alegria não impulsiona minha criatividade. O tédio, às vezes. A ansiedade da paixão também faz compor. Mas ao fim, tudo soa incrivelmente artificial e termino rasgando, apagando, ignorando.

Um texto de dor dura mais que todos os outros. É mais consistente, mais sincero.

O certo é que as coisas do mundo fazem mais sentido quando as costas pesam. A realidade triste aflora o que há de mais verdadeiro em cada um. Aí sim, não há problema algum em chapinhar na chuva de sapato branco. Não existe medo, não há o que perder. A dor deixa a alma leve.

Uma amiga disse que fico bonita quando choro. Concordo. De certa forma, a tristeza pra mim é bonita. O único prêmio que já ganhei veio do retrato da minha tristeza em forma de poesia. E sempre parece que meu lado mais ajuizado vem à tona quando estou vulnerável. Começo a achar que, no meu caso, possa ser que valha mais a pena ser triste do que alegre.